quarta-feira, 23 de setembro de 2009

>> o comércio do futuro - I
Didier Lamouche, presidente da Bull, chama a atenção para os supercomputadores...


##Didier Lamouche, o presidente da Bull em todo o mundo, se curva sobre o notebook e procura um quadro de PowerPoint; quando acha, sorri ao projetar na parede um gráfico de barras verticais. Uma das barras se sobressai bastante das outras; ela representa o número de HPCs instalados nos Estados Unidos. (HPC é a sigla moderna para supercomputador; significa high-performance computer.) Outras três barras, bem menores, representam o número de HPCs instalados na Europa, na China e na Índia. "O Brasil", diz Lamouche, "nem aparece nesse gráfico." Para ele, americanos, europeus, chineses e indianos viram algo que os brasileiros ainda não viram.
##Lamouche se juntou à comitiva do presidente da França, Nicolas Sarkozy, e se encontrou com políticos e empresários brasileiros na semana passada. Conversou brevemente com Lula e com Miguel Jorge, o ministro do desenvolvimento. Assinou um acordo de cooperação com o Serpro. Deu entrevista para jornalistas num hotel de São Paulo — quando projetou o gráfico de barras verticais na parede. Procurou explicar a todos o que o Serpro, a Infraero, a Intelig e os HPCs têm em comum.

>> o comércio do futuro - II

... liga os supercomputadores à Intelig, à Infraero e ao Serpro...


##Bull e Serpro pretendem construir juntos ferramentas para montar portais e para interligar sistemas; no futuro, pretendem fundir o robô-programador da Bull, o NovaForge, com o robô do Serpro, o Demoiselle; e pretendem construir ferramentas para a construção de portais especializados na vida de alunos, professores e pais. Bull e Infraero concluíram o primeiro sistema Java feito com o NovaForge; nenhum ser humano escreveu nenhuma linha de código Java. O preço por ponto de função ficou igual aos preços de mercado, e isso com um sistema só. Mais tarde, quando o NovaForge estiver produzindo dezenas de sistemas para dezenas de clientes, os preços por ponto de função devem cair 50%. Por último, Bull e Intelig já assinaram dez aditivos ao contrato pelo qual a Intelig vende banda larga WiMAX para empresas, mas, em troca de aluguel, a Bull instala e opera a rede.
##A Bull passou vários anos dando prejuízo, diz Lamouche, mas ela se refez em 2005 e desde então cresce e dá lucro. Ela se concentrou em HPCs, em serviços complexos apoiados por software aberto (como o serviço prestado à Infraero, apoiado pelo NovaForge), e em serviços complexos apoiados por CPDs de grande porte (como o serviço prestado à Intelig, apoiado pelo CPD da Bull em São Paulo). No futuro, diz Lamouche, as três linhas estratégicas devem convergir — e no centro delas ficam os HPCs.

>> o comércio do futuro - III

... e promete pôr o pessoal da Bull para ajudar.


##Americanos, europeus, chineses e indianos se organizam para montar centros de simulações por computador, e assim vender mais para clientes no mundo todo; por isso eles instalam grandes HPCs. Na França, diz Lamouche, um fabricante de champanhe usa simuladores para compreender a química das bolhinhas. Quanto menor o diâmetro das bolhas, mais elogios dos provadores profissionais de champanhe, e maior o preço. Testar novas receitas de champanhe num simulador demora menos e custa menos do que testá-las em condições reais.
##O governo brasileiro já instalou oito HPCs. Cada um deles funciona dentro de um Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Cenapad); todos os Cenapads fazem parte de universidades. A Bull instalou seis desses oito HPCs, inclusive os três maiores. Mas o maior deles, de 850 processadores, é cem vezes menor do que o maior HPC americano.
##Isso porque os cientistas brasileiros, diz Lamouche, empregam menos os HPCs do que poderiam e deveriam. Físicos e estudantes de física usam 90% das horas de processamento dos oito HPCs brasileiros. O físico usa o HPC para rodar cálculos complexos e preparar experiências; depois usa o HPC para rodar cálculos complexos e compreender os resultados das experiências; e por fim ele publica sua tese de doutorado sobre, por exemplo, os efeitos da temperatura nas características quânticas dos nanotubos de ouro. Isso é bom para o físico e para a universidade, mas é pouco para o Brasil.
##Os cientistas fariam melhor se juntassem tudo o que sabem em simuladores. Se físicos, químicos, agrônomos, meteorologistas e biólogos juntam o que sabem num simulador, o agricultor do Rio Grande do Sul pode testar sementes de videiras, técnicas de aragem e de irrigação, fermentação — tudo no computador, tudo antes de realizar qualquer ação concreta. Se os cientistas fizessem isso, os vinicultores brasileiros competiriam bem com os de Champagne. Mas os brasileiros, os cientistas inclusive, se intimidam com as simulações. Acham que um simulador ficará caro demais, e dará trabalho demais.
##Outro dia, num dos clientes, a Bull trocou um HPC velho por um novo. A capacidade de processar dados aumentou 400%, o consumo de energia caiu 64%, o espaço ocupado dentro do CPD caiu 86%. Os HPCs ficaram mais baratos, diz Lamouche; o Brasil deveria montar um grande HPC, deveria comprar ou criar simuladores, deveria alugar as horas de simulação para empresas de todos os tamanhos, em todos os estados. Lamouche promete pôr o pessoal da Bull para ajudar.