quarta-feira, 21 de outubro de 2009

>> internet popular - I
Serra zera o ICMS para banda larga de 200 kbps a 1 Mbps...


##O governador de São Paulo, José Serra, chegou ao Futurecom no final da manhã de 15 de outubro, o segundo dia da feira, para fazer um anúncio.
##Sua visita tinha sido anunciada algumas vezes pelo organizador do Futurecom, Laudálio Veiga Filho, durante um painel com presidentes de operadoras e fornecedores. "Ele está vindo de helicóptero", disse Laudálio da primeira vez. "Ele já saiu do Palácio", disse da segunda. "Ele chegou", disse quando todos já podiam ouvir o helicóptero.
##Serra apareceu acompanhado do secretário da Fazenda, Mauro Ricardo Machado da Costa, do secretário de Gestão Pública, Sidney Beraldo, de quatro seguranças, e de alguns assessores. Eles anunciaram o que o secretário de Fazenda chamou de "Internet a preço justo".
##O Estado de São Paulo abriu mão do ICMS, de 25%, sobre o serviço de conexão à Internet de velocidade entre 200 kbps e 1 Mbps.

>> internet popular - II
... para São Paulo ter banda larga por até R$ 29,80...


##O governador e cada um dos secretários assinou o decreto 54.921 para oficializar o programa Banda Larga Popular. Depois, Serra subiu ao púlpito, folheou uma apostila, deu bom dia a todos e a todas, agradeceu a Laudálio — pois era o segundo ano do Futurecom em São Paulo. "Bons negócios com a Internet significam mais empresas, mais produção", disse Serra. "Não tenho dúvida disso."
##O Estado de São Paulo, diz Serra, tem 6,95 milhões das casas com computador: dessas, 4,39 milhões têm banda larga; 1,75 milhão usam conexão discada e 690 mil não têm conexão. Os habitantes do estado não contratam banda larga por conta do preço: em média, R$ 50,00 por mês. O objetivo do Banda Larga Popular é beneficiar os moradores dessas 2,442 milhões de casas.
##"Quando a ideia me foi transmitida pelo Beraldo e pelo Mauro Ricardo", disse Serra, "eu fiquei pressionando e pressionei bastante os provedores." Com isso, o governo e os provedores chegaram a um acordo: o estado zera o ICMS e os provedores tiram R$ 10,00 do preço do serviço.
##As operadoras que fizerem parte do programa terão de oferecer a conexão com modem, provedor de acesso e instalação grátis, sem limite de uso, por até R$ 29,80 por mês.
##Para os serviços modernos de Internet, conexão de 200 kbps é lenta; às vezes, até a conexão de 1 Mbps é lenta. Serra sabe disso, mas, para quem não está conectado, ou para que se conecta por linha discada, é suficiente.
##Serra agradeceu a Laudálio pela oportunidade de fazer o anúncio durante o Futurecom; agradeceu à Telefônica, o principal e único parceiro por enquanto; e desceu do púlpito.

>> internet popular - III
... mas só a Telefônica entra no programa.


##Todas as operadoras podem participar do programa Banda Larga Popular: fixas, móveis, de TV a cabo. Mas só a Telefônica assinou convênio com o estado: começa a vender o serviço em 9 de novembro. "As móveis", diz Sidney Beraldo, "disseram que precisam investir na rede de banda larga para suportar a demanda antes de assinar o convênio."
##O Estado de São Paulo arrecada R$ 534 milhões com o serviço de banda larga. Se apenas as pessoas que não têm conexão contratarem o serviço, o estado não perde nada na arrecadação. Caso as pessoas troquem um plano mais caro pelo plano popular, diz Beraldo, então o estado vai perder.
##O programa só vale para pessoas físicas — que não precisam comprovar renda para contratar o serviço.
>> bancos
O consórcio Termoeste cobra R$ 880 milhões do Banco do Brasil e da Caixa para construir um novo CPD.


##Em 16 de outubro, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal anunciaram, por meio do Diário Oficial da União, que o consórcio Termoeste (composto pelas empresas BVA Investimentos, Termoeste e GCE) venceu a licitação para construir um novo CPD (ou datacenter). José Luís Salinas, vice-presidente de TI, logística e suporte operacional do Banco do Brasil, usará 4.200 metros quadrados do novo CPD, enquanto a equipe de TI da Caixa usará mil metros. O contrato é uma parceria público-privada (PPP); o consórcio gastará R$ 880 milhões, pagos pelo Banco do Brasil e pela Caixa ao longo de 15 anos.
##Além de construir o CPD e gerenciar a infraestrutura predial (serviços de energia elétrica, água, esgoto e circuito fechado de TV), o consórcio deve gerenciar duas conexões por fibras óticas independentes para cada banco. O consórcio tem até o final de janeiro de 2010 para começar a construção do CPD, que ficará num terreno do Banco do Brasil, em Brasília (DF). Pelo edital, depois de começar as obras, o consórcio precisa terminá-las em 510 dias.
##O Banco do Brasil e a Caixa pretendem pagar juntos, no máximo, R$ 3,4 milhões por mês. "Vamos ganhar em escala", diz Salinas. Sem uma PPP, o Banco do Brasil e a Caixa gastariam mais: ou construiriam um CPD com dinheiro próprio ou contratariam um CPD terceirizado, sendo obrigados a licitar o serviço a cada cinco anos. Recorrendo à PPP, os dois bancos evitam licitar o mesmo serviço a cada cinco anos, e evitam o risco de levar todas as máquinas de um CPD a outro. Se o contrato com o consórcio der certo, Salinas só se preocupará em contratar um novo CPD em 2025; ainda assim, ele poderá renovar o contrato com o consórcio por outros 15 anos.
##Quando o novo CPD estiver pronto, Salinas ajustará o modelo de processamento de dados do Banco do Brasil: vai tirar sistemas menos importantes do mainframe, onde hoje funcionam 70% de todos os sistemas, para organizá-los em servidores diferentes, conforme a importância. Assim, ele investe só o necessário em cada máquina e atende mais rápido as encomendas dos usuários. "Será uma oportunidade para melhorar a infraestrutura de TI do banco."
##Contudo, antes de assinar o contrato, os dois bancos precisam esperar o consórcio perdedor recorrer (ele é formado por Método Engenharia, Dalkia, MC, Grenit e Comercial de Hardware). O prazo para contestar a licitação termina sexta-feira (23).
>> segurança
Usuários de redes sociais correm o risco da chantagem


##Quando o usuário visita um portal de relacionamento ou um portal de encontros (qualquer portal social), e navega no portal à vontade, talvez um dia veja um relatório completo de como ele navegou: que páginas visitou, por quanto tempo, em que sequência. Segundo Craig Wills, pesquisador do Worcester Polytechnic Institute (WPI), muitos portais sociais revelam informações em excesso para sistemas especializados em relatórios de navegação na Internet, como o Google Pagerank, o Alexa, o Compete, o Technorati.
##Quando o internauta se conecta a um portal social, diz Wills, ele recebe um número único do portal, e a partir dali ele navega pelo portal carregando esse número como um crachá. O número único aponta para todas as informações que o usuário forneceu ao portal social — nome, sexo, idade, profissão, endereço. Um programa como o Alexa ou o Technorati consegue produzir relatórios sobre como os usuários navegam em qualquer portal, mas sem identificar os usuários. Quando um programa desses obtém o número único, contudo, ele consegue associar a navegação à pessoa — ele sabe quem navegou como. O problema, diz Wills, é que a maioria dos portais sociais fornece esse número único aos sistemas especializados em relatórios de navegação.
##A empresa responsável pelo Alexa ou pelo Technorati talvez nunca divulgue um relatório desses, mostrando, por exemplo, como certo político famoso costuma ver o perfil de prostitutas; mas e se um funcionário dessa empresa não resiste à tentação?
>> a rede do futuro
Para o pessoal da Trópico, os funcionários das operadoras mudam logo o perfil de investimentos.


##Nos últimos anos, diz Raul Del Fiol, presidente da Trópico, os funcionários de operadoras fixas e celulares trabalharam com uma ideia fixa: instalar equipamentos para levar serviços de banda larga ao maior número possível de ruas. Eles investiram em abrangência (ou penetração, como dizem no setor de telecom). Clientes conseguem escolher várias versões de serviços de banda larga: no caso da banda larga celular (3G), o cliente paga uma taxa por mês e tem direito a transmitir uma certa quantidade de bytes. Quando ele atinge sua cota de bytes, a operadora limita a velocidade, visto que ela não pode interromper o serviço (é contra a lei). Muitos clientes não sabem disso, e reclamam do serviço lento. Em outras palavras: os funcionários das operadoras ainda não investiram em redes mais inteligentes, e vendem serviços meio burros. A partir de 2010, diz Del Fiol, coisas assim devem mudar.
##As operadoras devem investir em serviços IP que funcionem ao longo de várias redes, inclusive redes fixas e celulares. Essa iniciativa é conhecida pela sigla em inglês: IMS (de IP multimedia subsystem). Na prática, as operadoras devem instalar máquinas de controle e tradutores de protocolos para interligar melhor os serviços de telefonia fixa, de telefonia celular e de Internet. Quando o cliente estiver na rua, ele receberá uma mensagem no celular: sua mãe deixou um recado na secretária eletrônica do telefone de casa. E depois outro: seu chefe mandou um e-mail com a palavra urgente. Para Del Fiol, esse tipo de serviço IMS é a cara da linha de produtos da Trópico, a Vectura. Ele explicou a linha Vectura a funcionários de operadoras durante o Futurecom 2009, que ocorreu na semana passada em São Paulo.
##Em Manaus, o pessoal da fábrica trabalha para automatizar cada vez mais a produção de placas e módulos da Vectura. Ao mesmo tempo, em Campinas, os funcionários estudam vários modelos de computadores industriais. A Trópico ganha pouco ao vender hardware. Mais para a frente, ela deve fabricar menos placas e menos módulos; vai substituí-los por computadores industriais comprados no Brasil, na Ásia. Aos poucos, diz Del Fiol, a Trópico deve se transformar numa empresa de software.
##Em 2009, sem a portabilidade, a Trópico fatura uns R$ 110 milhões, ou seja, cresce 13% em relação a 2007. (Em 2008, com a portabilidade, a Trópico faturou R$ 209 milhões.) Para Del Fiol, está muito bom. Logo as operadoras começam a instalar serviços novos por meio de máquinas velhas, e a Trópico deve crescer, pois a linha Vectura foi projetada para que a operadora consiga vender serviços novos por meio de máquinas velhas. Em Campinas, dos 84 funcionários atuais, quase todos pesquisam os detalhes de serviços IMS. "Só conseguimos crescer", diz Del Fiol, "conforme empregamos gente em P&D."
>> estratégias
A Ericsson quer levar banda larga para a população pobre


##Fatima Raimondi assumiu a presidência da Ericsson Brasil em setembro de 2008. Naquela época, a Ericsson já tinha assinado contrato com quatro grandes operadoras móveis e os técnicos montavam, ao mesmo tempo, as redes de banda larga celular (3G) da Brasil Telecom, da Claro, da Vivo e da TIM.
##"Na minha memória", diz Fatima, "2008 será o ano em que a América Latina e o Brasil começaram a investir em banda larga móvel." A Ericsson instalou no Brasil 8 mil estações de rádio em 2008 — e por vender bastante, a receita líquida da Ericsson aumentou 38,83%, segundo números do Anuário Telecom 2009. "O quarto trimestre foi o melhor que já tivemos."
##Em janeiro de 2009, as vendas ainda continuavam bem porque as operadoras terminavam os projetos.
##No primeiro trimestre de 2009, apesar da crise econômica, Fatima começou a fabricar no Brasil módulos eletrônicos usados em estações de rádio 2G e 3G, e em equipamentos de transmissão e de núcleo da rede. "A gente sabia que era um investimento de longo prazo."
##No entanto, no final do trimestre, as operadoras pararam de comprar. "Estava todo mundo falando de crise." Pouco tempo depois, as operadoras reviram contratos e projetos. "A gente discutia com elas novas formas de prestar o serviço." Se antes elas compravam um equipamento A, a equipe da Ericsson sugeria fazer a mesma coisa com o equipamento B, mais em conta. A equipe da Ericsson também conseguiu aumentar a venda de serviços, como de manutenção de rede, suporte e ferramentas para otimizar a infraestrutura.
##Antes da crise, a Ericsson já tinha perdido uma grande concorrência para montar a rede 3G da Oi. Por tudo isso, Fatima instalou metade dos projetos que tinha planejado. "Também tivemos de rever contratos com os fornecedores e reduzir custos."
##Em 2009 e em 2010, o foco dela continua na banda larga, principalmente a móvel. A Ericsson vende equipamentos óticos, mas Fatima acredita que a 3G é a forma mais rápida de espalhar banda larga no Brasil.
##Durante 2008, os funcionários da Ericsson fizeram várias pesquisas com a população. Numa delas, entrevistaram 600 pessoas de baixa renda das cidades de Indaiatuba, São Paulo e Recife. Descobriram que elas gastam muito para acessar a Internet em LAN houses e, com o que gastam, poderiam pagar uma conexão de banda larga em casa. Mas elas não têm de quem contratar o serviço de banda larga.
##Agora, os vendedores da Ericsson mostram o resultado da pesquisa para as operadoras, a fim de convencê-las a instalar mais redes, em cidades menores, mais distantes e mais pobres. A nova estratégia da empresa é levar banda larga (ou qualquer outra banda, na verdade) para todo o Brasil. No próximo ano, Fatima traz produtos mais baratos para vender no país.
##Em 2010, aposta Fatima, o Brasil volta a crescer.
>> probabilidade
Sigmund Freud escrevia cartas como você escreve e-mails


##Até 2008, muita gente acreditava que as pessoas usam a razão quando se sentam ao computador para escrever e-mails, e portando mandam os e-mails mais importantes primeiro. Luís Amaral, professor de engenharia da Northwestern University, estudou 3 mil contas de e-mail para descobrir: mentira. As pessoas mandam e-mails com o coração. Elas se sentam ao computador e mandam vários e-mails de uma vez, de forma aleatória, guiadas pelas emoções. Luís descreveu esse jeito aleatório de mandar e-mails com fórmulas matemáticas.
##Este ano, Luís e sua equipe se perguntaram: será que essas fórmulas valem também para cartas escritas à mão?
##Eles estudaram a correspondência de 16 pessoas famosas, começando por sir Francis Bacon (1574) e terminando com Carl Sandburg (1966), passando por Albert Einstein, Charles Darwin, Sigmund Freud, Karl Marx e Ernest Hemingway. Publicaram os resultados na revista Science.
xxAs fórmulas dos e-mails explicaram o padrão das cartas. Esses 16 famosos também mandavam cartas sempre de uma sentada, numa sequência ao acaso — guiados por uma lógica que só cada um deles poderia explicar, ou seja, guiados pelas emoções. Na linguagem matemática, eles mandavam cartas em ciclos, e de forma aleatória (ou randômica).
##Luís não está interessado em como as pessoas escrevem cartas ou e-mails; na verdade, ele quer saber qual é a probabilidade de que uma pessoa dedique certa quantidade de tempo para tomar decisões a respeito de certa tarefa. As fórmulas matemáticas, diz Luís, mostram como as pessoas se comportam, e podem ser usadas em outras circunstâncias.