quarta-feira, 1 de julho de 2009

>> por trás da lei – I
Técnicos da Secretaria de Saúde de São Paulo têm menos de 90 dias para criar sistemas...


No dia seguinte àquele em que o governador José Serra assinou a lei antifumo do Estado de São Paulo, Andre Luiz de Almeida recebeu o aviso: precisava construir um portal para a vigilância sanitária contratar os agentes que ajudariam na fiscalização. As contratações começavam naquele mesmo dia, sexta-feira, 8 de maio.
Andre, como diretor de tecnologia da Secretaria de Estado da Saúde, sabia que a lei previa a contratação de 600 fiscais do fumo, mas como o Centro de Vigilância Sanitária estava responsável pelo projeto, ele não se preocupou. "Mas o projeto ficou preso lá", diz Andre, e chegou de última hora no departamento de tecnologia da secretaria.
Na sexta-feira depois do almoço, Andre recebeu outro aviso: precisava ajudar a secretaria a receber denúncias de cidadãos, e a monitorar as denúncias e as fiscalizações. As informações sobre denúncias e sobre o andamento das averiguações ficariam disponíveis para os agentes da vigilância sanitária. Andre e sua equipe tinham menos de 90 dias para fazer tudo.
Os três técnicos viraram a noite de sexta para sábado construindo o portal que receberia as inscrições dos fiscais do fumo. Eles interligaram o portal ao sistema de recursos humanos da secretaria e da vigilância sanitária, pois a vigilância selecionaria os inscritos. Na manhã de sábado, o portal estava pronto. Os técnicos esperavam receber 9 mil inscrições por dia, mas nos primeiros dias receberam cerca de 16 mil inscrições.
Andre separou dois técnicos de infraestrutura para acompanhar o projeto do portal e adaptar os servidores para aguentar a quantidade de acessos. Eles conseguiram manter o portal funcionando.
As inscrições para fiscal do fumo terminaram em 15 de maio. Em junho, 500 fiscais foram treinados e formados. A lei nova começa a valer em 7 de agosto. Até lá, Andre precisa montar um call center e outro portal, desta vez para receber as denúncias da população.

>> por trás da lei – II

... e correm para criar um portal e um call center para as denúncias da população.


Qualquer pessoa poderá denunciar qualquer estabelecimento, bar, hotel, restaurante ou condomínio que permitir um cigarro aceso num lugar fechado. As denúncias poderão ser feitas pela Internet, por um telefone 0800 e até pelo Procon.
A dificuldade, diz Andre, é que mais de uma pessoa pode denunciar o mesmo local, mas um pode denunciar o local pelo nome, outro pelo endereço, e alguém certamente escreverá o nome ou o endereço errado. "Temos de condensar isso tudo para fazer o fiscal chegar até o local."
Ele quer centralizar as denúncias num sistema e fazer o sistema avisar automaticamente a vigilância sanitária, assim a agência manda fiscais logo para o local. Depois, ele precisa criar um sistema para a vigilância sanitária responder aos denunciantes.
O portal e o call center estarão abertos a toda a população de São Paulo, quase 40 milhões de habitantes. Mas Andre não acredita que o sistema receberá denúncias de tanta gente. "A opinião pública é dividida."
Antes do governador assinar a lei antifumo, os agentes da vigilância sanitária viajaram até Washington para ver como funciona uma lei semelhante. Os agentes da vigilância sanitária americana afirmaram que, no começo, quando a lei entrou em vigor, receberam denúncias de 5% da população, mas depois a taxa caiu. O número de denúncias, diz Andre, está relacionado com campanhas publicitárias.
>> justiça - I
O Conselho Nacional de Justiça cria um cadastro nacional de bens apreendidos...


Toda vez que um processo chega a um tribunal estadual ou federal com qualquer bem material vinculado (como carros, casas, drogas, armas ou dinheiro), o juiz se torna responsável pelo bem até concluir o processo. Até poucos meses atrás, técnicos da justiça registravam os bens no próprio processo e, quando possível, guardavam os bens em depósitos do tribunal em que o processo seria julgado. Até o final do processo, muitos bens sumiam. "É uma reclamação frequente de todos", diz Daniel Castro Machado Miranda, gerente de projeto do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que regula os tribunais de justiça do país.
Por uma recomendação do Grupo de Ação Financeira contra a Lavagem de Dinheiro (Gafi), desde 2007 Daniel se reúne com colegas do Ministério da Justiça, da Polícia Federal e do próprio CNJ para resolver o problema. Eles queriam desenvolver um sistema em que os juízes dos três tribunais federais e 27 estaduais cadastrassem todos os bens apreendidos. Assim, cada tribunal prestaria contas ao CNJ pelos bens em seu poder. Durante um ano, Daniel e equipe levantaram os requisitos e desenvolveram um protótipo baseado do Sistema Nacional de Bens Apreendidos (SNBA), que ficou pronto em junho de 2008 e funciona via Internet. O mais difícil, diz Daniel, foi estabelecer as categorias para cadastrar os bens apreendidos. "É preciso cadastrar muitos detalhes sobre cada item."
Daniel testou o SNBA durante seis meses em dois tribunais: na segunda vara criminal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio de Janeiro e Espírito Santo), cinco funcionários usaram o SNBA; e na segunda vara criminal do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina), um funcionário usou.

>> justiça – II

... e, desde fevereiro, os juízes já cadastraram mais de 4 milhões de itens.


Em dezembro de 2008, Daniel já havia homologado todas as funções e tabelas do SNBA com os usuários dos dois tribunais de teste. Com isso, o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do CNJ, publicou a resolução nº 63, que obriga todos os tribunais a registrar os bens apreendidos de todos os processos no SNBA, por meio do portal do CNJ. Todos os tribunais deveriam cadastrar os primeiros bens no SNBA até 28 de fevereiro — o que só aconteceu em abril.
Ninguém no CNJ sabe quantos bens apreendidos serão cadastrados mas, até agora, os funcionários dos tribunais já cadastraram 4,7 milhões de bens vinculados a 111 mil processos no SNBA. O prazo para cadastrar todos os bens vinculados a processos ativos em 31 de dezembro de 2008 termina em 31 de julho; a partir de 2010, todas as informações sobre os bens apreendidos deverão estar atualizadas. Os funcionários do CNJ apresentarão os dados sobre o SNBA na próxima reunião com o Gafi.
Entre janeiro e março de 2009, os tribunais apreenderam 541 mil bens, no valor de $ 57 milhões. Para ajudar os tribunais a cadastrar os bens, Daniel tenta fechar parcerias com a polícia civil de cada estado. Como os policiais já cadastram os bens que apreendem ao registrar cada ocorrência, Daniel quer integrar o sistema da polícia com o SNBA. Assim, quando o processo chegar ao tribunal, os bens já estarão cadastrados na base de dados do SNBA. Até agora, Daniel já se reuniu uma vez com os técnicos da TI da Polícia Civil de São Paulo; eles comparam os campos do sistema da polícia com as tabelas de bens apreendidos do SNBA. "Só depois", diz Daniel, "vamos planejar como os sistemas serão integrados."
>> plc - I
A Aneel escreve a versão final do regulamento de PLC...


Carlos Alberto Calixto Mattar, assessor da superintendência de regulação dos serviços de distribuição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), realizou uma consulta pública do regulamento de banda larga pela rede elétrica (PLC) entre 12 de março e 11 de maio de 2009. Ele também recebeu os representantes das empresas durante uma audiência pública em 13 de maio. Recebeu 46 contribuições, e precisava estudá-las e alterar o texto o mais rápido possível, para que os diretores e procuradores da Aneel aprovassem o regulamento do PLC. "A versão final já está com os procuradores e eles devem demorar mais algumas semanas para aprová-lo."
Assim como outros técnicos da Aneel, Mattar estuda o PLC há mais de cinco anos, e por isso ele tem pressa: a Aneel já organizou seminários, financiou estudos e projetos piloto com universidades, mandou funcionários visitar redes PLC em outros países.
A versão final do regulamento incorporou 18 das 46 contribuições enviadas durante a consulta pública: oito de concessionárias de energia elétrica, quatro de empresas de serviços de telecomunicações, três de associações e três de consumidores. "A regulamentação atende as necessidades atuais do mercado, mas vamos adaptá-la conforme surgirem outras tecnologias de PLC." Ele pretende divulgar o regulamento em julho.

>> plc – II

... e a maior parte da receita será usada para baixar a tarifa.


De acordo com o regulamento, as concessionárias de energia elétrica não podem operar a rede PLC, mas podem alugá-la para operadoras de telecomunicações. As operadoras pagarão o aluguel e, se for necessário, a reforma da rede elétrica. (PLC não funciona direito em redes velhas.)
Depois que a Aneel publicar o novo regulamento, as concessionárias de energia elétrica poderão comunicar ao mercado se pretendem ou não alugar a rede. "A transmissão de banda larga não deve atrapalhar o fornecimento de energia."
Parte da receita que a concessionária conseguir ao alugar a rede elétrica será destinada à "modicidade tarifária": o dinheiro será usado para reduzir as tarifas de energia elétrica. Essa divisão da receita, diz Mattar, é o que os procuradores da Aneel ainda discutem antes de divulgar a versão final do regulamento. As regras devem ser parecidas com as regras pelas quais a concessionária aluga postes para operadoras de rede de fibras óticas: 90% do aluguel servirá para reduzir o preço da energia elétrica, e 10% poderá ser usado livremente. "É uma receita adicional", diz Mattar. "Nenhuma concessionária recusará."
>> antes da crise – I
A Telefônica cria um sistema para gerir as reclamações dos clientes...


José Ricardo Formagio Bueno foi contratado pela Telefônica no final de 2006 para melhorar a forma como a operadora tratava os pedidos e os problemas dos clientes. A Telefônica mantinha canais separados para receber as reclamações e os pedidos de telefonia fixa, de Internet e de serviços empresariais.
No Brasil, José Ricardo preside o Fórum de Gestão das Telecomunicações, e se reúne com representantes de operadoras, fornecedores e professores do mundo todo para discutir as melhores práticas de gestão e os melhores processos de negócios para as operadoras. José Ricardo seguiu as indicações do fórum, consolidadas num documento chamado de eTOM, e sugeriu mudanças nos processos da Telefônica.
Ele sugeriu que a Telefônica tivesse um único canal de atendimento para todos os clientes, residenciais ou corporativos, e para todos os produtos, simples ou complexos. "Isso agiliza a operação e economiza no Capex e no Opex, que é o objetivo de todos hoje." E desenhou as especificações de um sistema de gestão para ser usado em toda a América Latina — o Goya.

>> antes da crise – II

... mas a instalação fica para 2010.


O Goya é um sistema de controle do fluxo de tarefas ligadas aos pedidos e às reclamações dos clientes. Foi desenvolvido por técnicos da fábrica de software da Telefônica, em São Paulo. Ficou pronto em maio e seria instalado ainda este ano. Mas, por causa da crise econômica, José Ricardo teve de adiar a instalação para 2010.
Quando o Goya começar a funcionar, o atendente da central de relacionamento digitará no sistema o pedido ou a reclamação do cliente; o sistema disparará avisos dentro da Telefônica para que os outros funcionários façam o que devem fazer. Ele também será integrado aos dois sistemas de CRM da Telefônica: um de clientes residenciais, que já existe; e outro de clientes empresariais, que está sendo construído na Espanha.
Como o projeto do Goya já acabou, José Ricardo vai repetir o que fez antes: estudar os processos pelos quais a Telefônica se relaciona com clientes empresariais, e sugerir adaptações no CRM que está sendo construído na Espanha, e que será usado no Brasil.
>> software livre
A Carnegie Mellon ajuda programadores Java a arranjar tempo para o café


Quando um programador se senta ao computador para programar em Java, ele na verdade se senta ao computador para escolher e configurar APIs (os protocolos pelos quais o computador vai realizar o trabalho). Na verdade, ele se senta ao computador para escolher entre 4.100 classes e 35 mil métodos. A cada nova versão do Java, aparecem mais APIs, mais classes e mais métodos. É difícil escolher — por exemplo, a classe MimeMessage, apesar do nome, não contém nenhum método para transmitir e-mail.
Por isso a Escola de Computação da Universidade Carnegie Mellon anunciou duas novas ferramentas, a Jadeite e a Apatite, para ajudar o programador a escolher e a configurar APIs. Elas usam mecanismos parecidos com os do Google para agrupar classes e métodos conforme certas características comuns, e mostram ao programador as classes e os métodos mais usados no mundo, assim como as classes e os métodos mais usados juntos.
Com as duas ferramentas, diz Jeffrey Stylos, um programador Java consegue entregar seu programa depois de um terço do tempo, pois ele acha as coisas mais depressa. As duas ferramentas estão disponíveis no portal do Projeto Programação Natural (www.cs.cmu.edu/~NatProg/), de graça.
>> computação paralela
Células funcionam como sistemas robustos de computação


Há tempos os biólogos lutam para entender uma característica das células: eles tiravam um gene-mestre do código genético da célula, mas a célula continuava a viver normalmente. Mas três universidades de três países (Estados Unidos, Israel e Espanha) colocaram biólogos, engenheiros da computação e matemáticos para estudar juntos o assunto, e eles publicaram este mês uma explicação.
Um gene-mestre produz fatores de transcrição, proteínas que ativam ou desativam os outros genes. Dentro da célula, cada parte vai executar sua função seguindo as instruções contidas nos genes ativados por genes-mestres, e vai desprezar as instruções contidas nos genes desativados. Ao extrair um gene-mestre, a célula deveria funcionar mal, ficar doente e morrer.
Os engenheiros e os matemáticos descobriram que os genes-mestres fazem backup um para o outro. (Ainda não sabem explicar bem como.) Os genes-mestres funcionam como computadores numa rede de computação paralela, e até a matemática usada para descrever sistemas paralelos de computação também serve para descrever o comportamento dos genes-mestres e de seus backups. Ao remover o gene-mestre Pdr1, por exemplo, a célula continua viva e normal; ao remover o Pdr1 e seu gene backup, 19% dos genes ativados pelo Pdr1 não são mais ativados, e a célula passa a funcionar mal, mas não morre. "Células são máquinas muito robustas", diz Anthony Gitter, um dos cientistas.
Se os biólogos precisaram de engenheiros e de matemáticos para entender melhor o que estava acontecendo, agora é a vez dos engenheiros e dos matemáticos. Os seres vivos estão evoluindo há uns 3 bilhões de anos, e toda solução contida em cada célula funciona bem, pois, caso contrário, já nem existiríamos mais. Quando os engenheiros entenderem direito de que jeito a célula ativa os próprios backups, vão descobrir novos truques para ativar os backups dos sistemas de computação paralela.