terça-feira, 13 de janeiro de 2009

>> telemedicina – I
Os técnicos da Procempa só queriam testar a Internet pela rede elétrica...

Os técnicos da empresa de informática de Porto Alegre queriam saber se a Internet pela rede elétrica (PLC) funcionaria bem com tráfego pesado. Eles decidiram testar a rede usando imagens de ultrassonografias. Instalaram um ponto de rede no posto de saúde no bairro de Restinga (aproveitaram parte da rede elétrica de média e baixa tensão, e completaram o resto com fibras ópticas) e conectaram o posto ao hospital público no centro de Porto Alegre; depois instalaram no posto um aparelho para fazer ultrassonografia em grávidas.
O posto de saúde de Restinga não tem especialistas em imagens médicas. As grávidas tinham de pegar ônibus e ir até o hospital público de Porto Alegre, a 40 quilômetros, para fazer o ultrassom. Muitas delas desistiam.
Com a rede, elas faziam o ultrassom no próprio posto de Restinga. Na hora marcada, o médico do posto abria um canal de videoconferência com o especialista do hospital de Porto Alegre e fazia o ultrassom seguindo as orientações virtuais. As imagens eram enviadas pela rede PLC para o especialista no centro de Porto Alegre, obedecendo ao padrão de imagens médicas. Cada grávida sabia o resultado do ultrassom na hora.
A transmissão de dados pela rede elétrica funciona — essa foi a conclusão tirada com o serviço de testes. Os técnicos foram até Restinga desligar os aparelhos. Mas os médicos e as grávidas não deixaram. “O teste teve um apelo social muito grande”, diz André Imar Kulczynski, presidente da Procempa.
>> telemedicina – II
... mas criaram um projeto social: ultrassom a distância.

O projeto de telemedicina mudou a rotina dos médicos do hospital público de Porto Alegre e do posto de Restinga. Eles tiveram de organizar as escalas de acordo com os ultrassons agendados. O projeto também aumentaria o custo da rede da Procempa, com equipamentos e técnicos ocupados na gestão. Contudo, em outubro de 2008, André percebeu que ia sobrar um pouco de dinheiro do orçamento de 2008 da Procempa. Então ele decidiu expandir o projeto.A tendência, diz André, é levar o serviço para todas as unidades de saúde de Porto Alegre, mas por enquanto ele não tem dinheiro para tanto. “Falta instalar salas, equipamentos de ultrassom e conexão de banda larga em todos os postos.”Os técnicos mantiveram a conexão em Restinga e instalaram uma antena de rádio para permitir a comunicação em alta velocidade em outros dois postos de saúde. André montou uma unidade móvel para levar o equipamento de ultrassom e os materiais usados no exame até os três postos com rede de banda larga.O técnico da Procempa dirige até o posto, monta o equipamento de ultrassom, ativa o canal de comunicação e o médico faz o ultrassom nas grávidas seguindo as instruções virtuais do especialista no hospital público de Porto Alegre. A unidade móvel fica um dia em cada um dos três postos e o médico atende em média oito grávidas por dia.
>> nota fiscal eletrônica
O Amazonas desenvolve software para fiscalizar o transporte de produtos

Em meados de outubro, Sérgio Figueiredo e Adriano Vidal, auditores fiscais da Secretaria da Fazenda do Amazonas, procuraram Rodrigo de Albuquerque, analista de TI da secretaria: eles precisavam de um sistema próprio para os fiscais. Todos os dias, os fiscais demoravam até uma hora para verificar as notas fiscais eletrônicas de cada caminhoneiro. “Enquanto o fiscal atendia um caminhoneiro”, diz Rodrigo, “os outros formavam uma fila.” Em dezembro de 2008, mais empresas entrariam no sistema da nota fiscal eletrônica, e então os fiscais não conseguiriam cadastrar todas as notas. “Os auditores me pediram”, diz Rodrigo, “para desenvolver um sistema que agrupasse todas as notas fiscais num único documento.” O documento é chamado de capa de lote.Quando um caminhoneiro cruza a fronteira de um estado, é obrigado a parar no posto fiscal para mostrar as notas fiscais de todos os produtos que transporta. O fiscal acessa o Sistema de Controle Interestadual de Mercadorias em Trânsito (SCMIT), confirma qual é a transportadora, o destino dos produtos, a placa do caminhão. Depois, usa um leitor de código de barras para inserir cada nota fiscal no sistema. No Amazonas, diz Rodrigo, os fiscais também entram num software da secretaria da fazenda, o Sinfes, para verificar se o proprietário da mercadoria deve algum imposto para o estado; se dever, os fiscais emitem na hora uma guia de recolhimento de imposto estadual. “Para cada nota, o fiscal trabalha duas vezes.”Em novembro, Rodrigo e equipe dormiram pouco e se reuniram várias vezes para adaptar o software. Na metade de novembro, Rodrigo percebeu que não conseguiria entregar todo o projeto no prazo e conversou com Sérgio e Adriano; eles priorizaram o software para atender o Sinfes. Como o banco de dados do Sinfes fica armazenado num mainframe, Rodrigo não conseguia ler a capa de lote de uma só vez, quando agrupava muitas notas fiscais. “Com o banco de dados num mainframe”, diz Rodrigo, “tivemos que fragmentar as informações da capa de lote para pesquisar as informações do proprietário das mercadorias.”Rodrigo implantou o novo software nos postos fiscais do Amazonas em 5 de dezembro. No final do mês, instalou outra versão para cadastrar a capa de lote no SCMIT. O software, diz Rodrigo, funcionou bem. Contudo, o projeto só dará certo depois que as transportadoras aderirem ao software — seus funcionários precisam agrupar as notas fiscais na capa de lote eletrônica. Em dezembro, Sérgio, Adriano e Rodrigo deram uma palestra para explicar o novo sistema aos empresários. “Tentamos mostrar para as transportadoras”, diz Sérgio, “que elas serão atendidas mais rápido se usarem o software, mas o uso é voluntário.” Até agora, somente 15 transportadoras adotaram o software.Mesmo sem nenhuma lei que obrigue as transportadoras a usar o sistema, os secretários da fazenda de todos os outros estados brasileiros decidiram adotar o software de capa de lote eletrônica em dezembro, durante o Encontro Nacional dos Coordenadores e Administradores Tributários Estaduais. “Todos os postos fiscais”, diz Rodrigo, “estão enfrentando o mesmo problema que nós.” Agora, Rodrigo adapta o sistema para se comunicar com o banco de dados da Receita Federal, onde estão cadastrados os auditores fiscais dos 800 postos do país. “Assumir esse compromisso”, diz Rodrigo, “foi arriscado, mas queríamos contribuir com o projeto da nota fiscal eletrônica.” Rodrigo deve adaptar o software até 10 de fevereiro. Se conseguir, viajará a São Paulo para apresentar o sistema aos auditores fiscais de todo o Brasil. “Depois que entregarmos o software”, diz Rodrigo, “a equipe de TI de cada estado será responsável por integrá-lo com os outros sistemas do estado.”
>> conexão – I
O governo do Amazonas leva a Internet para o interior...

“Você conhece o Amazonas?”, pergunta Aristóbulo Angelim. “Ninguém conhece.” Aristóbulo é assessor da diretoria da Empresa de Processamento de Dados do Estado do Amazonas (Prodam). Segundo Aristóbulo, ninguém conhece o Amazonas porque é um estado muito grande. Leva 15 dias para ir de Manaus a alguns municípios do interior. Sempre por barco: o transporte por terra não existe, e muitos municípios não têm uma pista de pouso. Aristóbulo ri quando fala da terceira geração da telefonia celular: em alguns desses municípios, a primeira geração ainda não chegou. “E nem vai chegar.” Segundo Aristóbulo, as operadoras não têm interesse em levar serviços a municípios isolados, com pouca gente.Em 2002, quando o governo federal lançou o programa Gesac (Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão), Aristóbulo achou que o Gesac se transformaria numa alternativa às operadoras.
>> conexão - II
... depois de seis anos esperando uma solução do governo federal.

O pessoal do Gesac instalou 100 pontos de acesso em todo o estado, mas, para Aristóbulo, foi uma decepção. Todos os circuitos foram instalados em unidades do exército ou universidades. “Nesses lugares, só entram cidadãos-soldados e cidadãos-alunos”, diz Aristóbulo. “O cidadão-cidadão raramente entra, então não tem acesso.”
Na metade de 2008, o governo do estado cansou de esperar pelo Gesac e começou seu próprio projeto. O projeto previa levar o acesso à Internet a todos os 61 municípios do Amazonas. Antes de abrir uma licitação, o governo fez um projeto-piloto em quatro municípios para saber que dificuldades enfrentaria. A licitação saiu em setembro; foi vencida pela Hughes.
Aristóbulo coordena a equipe de instalação, que começou a trabalhar no dia 1º de novembro de 2008. O sinal chega por satélite e é retransmitido por meio de rádios WiMAX. Os primeiros quatro municípios (Manacapuru, Itacoatiara, Tefé e Tabatinga) devem ficar prontos ainda este mês. Aristóbulo quer terminar a implementação em todos os municípios em janeiro de 2010. Cada município vai ter sua rede sem-fio, com todos os órgãos públicos conectados, e um telecentro, com dez computadores e um ponto de acesso sem-fio. Os quatro municípios do projeto piloto já têm essa infra-estrutura. Antes do projeto, eles não tinham nem um provedor de Internet. Hoje, os habitantes reclamam se o circuito cai. Para Aristóbulo, eles se desacostumaram do isolamento.
>> fiscalização - I
Em São Paulo, a CET testa um sistema de Zona Azul pelo celular...

Celso Buendia, gerente de estacionamento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo, começou dois pilotos do projeto Zona Azul Eletrônica no dia 8 de dezembro de 2008, um na região da Cidade Jardim e outro nos Jardins. Na Cidade Jardim, o motorista liga para um call center, se cadastra, compra créditos de Zona Azul e informa qual vaga vai ocupar. Nos Jardins, o motorista baixa um software no celular, compra um cartão com crédito e, ao ocupar uma vaga de Zona Azul, usa o celular para transmitir a senha do cartão. “Os marronzinhos”, diz Celso, “acessam todas as informações sobre as vagas pelo celular.” Celso vai testar as tecnologias por seis meses; se o sistema funcionar bem, vai implementar os dois projetos em toda a cidade.
>> fiscalização - II
... para monitorar as vagas...

Desde que a CET criou a Zona Azul em 1976, os bilhetes são vendidos da mesma forma: o motorista compra o bilhete no comércio próximo à vaga onde quer estacionar e preenche a data e o horário à tinta. O bilhete deve ficar num lugar visível, dentro do carro. “Só conseguimos multar os veículos irregulares”, diz Celso, “quando um marronzinho percebe que o motorista não comprou o bilhete ou o horário preenchido já passou.” Além disso, se o motorista compra o bilhete de um flanelinha, paga mais do que o bilhete custa — R$ 1,80.Como Celso não consegue controlar os papéis nem os flanelinhas, em 2006 imaginou outras formas de vender bilhetes. Organizou uma consulta pública e divulgou um documento com as funções que o sistema deveria ter, entre elas: os motoristas deveriam comprar crédito direto com a CET, por meios eletrônicos. Na época, Celso se reuniu com 40 empresários.Em abril de 2006, Celso organizou o primeiro piloto com 572 vagas na região da Praça Charles Miller: o usuário vai até o comércio próximo da vaga, compra os créditos, o atendente digita a placa e o valor num software, que envia as informações para o servidor da CET. Como funcionou bem, Celso instalou o mesmo sistema no Largo do Arouche (408 vagas) e no Aeroporto de Congonhas (150 vagas). “Não estou comparando os sistemas”, diz Celso. “Quero oferecer várias opções aos usuários, inclusive o bilhete em papel.”Celso não gastou nada para implantar os sistemas; ele assinou um termo de cooperação com os fornecedores. Em junho, Celso assinará um contrato com os fornecedores dos sistemas aprovados, um contrato semelhante ao usado com distribuidores de bilhetes da Zona Azul: a CET pagará 15% sobre o valor das transações realizadas por meio do sistema. Em troca, os fornecedores emprestam equipamentos, desenvolvem software, fazem a manutenção. A CET fiscaliza 33 mil vagas de Zona Azul em São Paulo.
>> fiscalização - III
... e planeja um datacenter para integrar as informações dos três sistemas.

Agora, Celso e os técnicos da CET projetam um datacenter para abrigar os sistemas da Zona Azul. Eles devem construir o datacenter em 2009, na central de operações da CET em São Paulo. “Vamos ter três servidores exclusivos para os sistemas”, diz Celso, “num ambiente controlado.” Com o novo datacenter, o marronzinho pesquisará a placa do veículo numa única base de dados. “No futuro, quero que os motoristas verifiquem pela Internet se existem vagas para estacionar numa determinada rua.”
>> telecom – I
O governo de Santa Catarina gastava muito com telecomunicações...

Em 2007, quando Hugo César Hoeschl assumiu a presidência do Centro de Informática e Automação de Santa Catarina (Ciasc), o governador do estado reclamava da conta de telefonia. O governo gastava por ano cerca de R$ 70 milhões com telefone e Internet. O contrato de telefonia era de antes da privatização do Sistema Telebrás, e cada unidade do governo usava e pagava a telefonia a seu modo — sem controle.Hugo é professor de governo eletrônico na Universidade Federal de Santa Catarina e assumiu o Ciasc a convite do governador, para tocar o projeto de governo eletrônico do estado. “Uma das premissas do governo eletrônico é a capacidade plena de comunicação.”
>> telecom – II
... os técnicos do Ciasc dividiram o serviço em cinco categorias...

Hugo juntou os técnicos do Ciasc e montou duas propostas para o governo. Numa, o governo continuaria com uma única operadora de telecomunicações, apenas refaria o edital para atualizar os preços. Na outra, o governo dividiria as telecomunicações em cinco categorias: rede central (backbone), provimento de Internet, capilaridade (conexão entre redes locais), nuvem (uma rede para as universidades e institutos de pesquisa) e telefonia. Hugo apresentou ao governador as vantagens e as desvantagens dos dois modelos.Um contrato seria mais fácil de gerenciar, mas o governo ficaria refém de um único fornecedor. Além disso, Santa Catarina é cheia de montanhas, então seria mais fácil dividir o estado em regiões. O modelo de cinco categorias seria mais difícil de gerenciar a princípio, diz Hugo, mas com o tempo o governo saberia quanto usa e quanto gasta com cada tipo de serviço de telecomunicações.O governador gostou mais do segundo modelo. Hugo e os técnicos do Ciasc ficaram um ano preparando os editais. “Fizemos mais audiências públicas do que o necessário.” Em algumas audiências, apareceram 100 fornecedores.
>> telecom – III
... e o governo conseguiu uma redução de 72% no custo do serviço de rede.

O primeiro pregão (para contratar a rede central) aconteceu em 30 de julho de 2008. Apareceram representantes da GVT, da Brasil Telecom e da Embratel. Eles deram 135 lances. O governo de Santa Catarina pagava em média de R$ 3.460,00 por megabyte contratado, por mês. O representante da Brasil Telecom, que já fornecia o serviço para o estado, ofereceu o megabyte por R$ 530,00 — desconto de 84,7%.No dia seguinte, 31 de julho, os técnicos do Ciasc e os representantes das três operadoras participaram do segundo pregão: o governo ia contratar o provimento de Internet. Depois de 20 lances, a Brasil Telecom ganhou um lote e a GVT ficou com outro — uma fará a redundância para a outra. Antes, diz Hamilton Georg Kurschus, assessor de planejamento e gestão do Ciasc, o governo gastava em média R$ 700,00 por megabyte contratado; agora vai gastar R$ 280,00 — desconto de 60%.O terceiro pregão aconteceu em 27 de outubro; o governo ia contratar a capilaridade da rede (para ligar órgãos públicos, escolas, hospitais). Os representantes das três operadoras deram 269 lances. No final, a Brasil Telecom e a Embratel ganharam. Os técnicos da Embratel vão cuidar de 502 pontos de rede e os da Brasil Telecom, de 2.823. Antes, o governo pagava R$ 4.480,00 pelo megabyte contratado, e agora vai pagar R$ 1.230,00 — desconto de 72,5%.O quarto pregão, para contratar a rede para as universidades, estava marcado para 5 de dezembro de 2008, mas foi cancelado por causa das enchentes em Santa Catarina.Hugo acredita que até março os cinco serviços estarão funcionando com os novos contratos, “se tudo correr bem”. O governo terá mais pontos de rede e redes melhores. Ainda assim, diz Hugo, o governo de Santa Catarina gastará por ano cerca de R$ 30 milhões com telefone e Internet.
>> rede convergente - I
O Estaleiro Atlântico Sul transmite dados e voz na mesma rede...

Logo que chegou ao Estaleiro Atlântico Sul, em outubro de 2007, o gerente de informática Ivan Warlet queria uma rede única para voz e dados. O estaleiro tem um escritório em Recife e dois escritórios no Rio de Janeiro. Os funcionários viajam pelo mundo todo — há pouco tempo, um funcionário foi até Cingapura para acompanhar o transporte de uma plataforma de petróleo. Ivan queria que os funcionários da empresa se falassem sem gastar nada, de onde estivessem. “Instalar telefonia tradicional seria jogar dinheiro fora.”Ivan é carioca, mas trabalhou 20 anos para órgãos do governo em Brasília, e já está em Pernambuco há dez anos. Ele ajudou a instalar a rede da TIM no estado, depois foi para a Coca-Cola. Nos dois casos, fez o trabalho que mais gosta: construir do zero uma infra-estrutura de informática e telecomunicações. “Gosto de chegar e ver o CPD vazio.”O Estaleiro Atlântico Sul é uma empresa nova. Surgiu em 2005, mas só começou a funcionar em 2007, quando conseguiu um financiamento do BNDES. Um funcionário da Coca-Cola foi para o estaleiro em 2007, quando a empresa começava a funcionar, e indicou Ivan para a área de informática. Ele tinha o perfil que a empresa queria: um profissional que gosta de começar do zero.
>> rede convergente - II
... em uma ilha longe de tudo...

Ivan atravessou pela primeira vez a ponte que separa o continente da Ilha de Tatuoca, a 50 quilômetros de Recife, em outubro de 2007. Levou um susto. A área que a empresa comprou para construir o estaleiro era só um areal esburacado. Sem árvores, sem casas, sem água encanada nem telefone. Nada além de areia, caminhões, vergalhões de aço para construir as fundações, e muitos buracos.De lá para cá, a paisagem mudou bastante, mas as condições ainda são precárias. Os funcionários trabalham em galpões provisórios, feitos de madeira e gesso: a prioridade é terminar o estaleiro. A empresa constrói o estaleiro ao mesmo tempo em que constrói o primeiro navio comprado pela Petrobras, o principal cliente do estaleiro. Os desenhos dos projetistas, a programação das máquinas que cortam aço, o cálculo do uso de materiais, o cumprimento dos prazos — tudo depende de sistemas de TI. Quando chegou, Ivan não sabia que a indústria naval dependia tanto de TI. Um diretor explicou a ele que a TI devia funcionar bem para não atrasar a produção. Se uma etapa do trabalho atrasasse, o diretor explicou, a menor multa da Petrobras equivalia a três vezes o orçamento anual da TI. Ivan entendeu o recado: precisava comprar equipamentos e aplicativos confiáveis, porque a TI não podia falhar.A rede era uma parte importante do projeto. Na ilha, tudo fica longe. Qualquer galpão tem 100 metros de comprimento. As máquinas que cortam aço ficam a 2 quilômetros do servidor com o desenho das peças. Não dá para usar cabeamento comum em distâncias assim. Num lugar cheio de chapas de aço e guindastes, não dá para confiar em redes sem-fio, por causa da interferência. Ivan se decidiu por 22 quilômetros de cabos de fibras óticas.
>> rede convergente - III
... e economiza com ligações a distância.

Ivan fez um levantamento de preços (que ele chama de “licitação”, cacoete dos 20 anos em Brasília). Ele queria comprar tudo de um fornecedor só. A Dimension Data apresentou o preço mais baixo, e levou o contrato.Os equipamentos de rede chegaram no começo do ano, em três contêineres. Conforme o estaleiro ia sendo construído, Ivan ia tirando os equipamentos dos contêineres e instalando.A rede de dados já está pronta, a rede de telefonia está quase pronta. Os funcionários do estaleiro podem ligar para os escritórios de Recife e do Rio de Janeiro sem gastar nada. Ivan distribui agora os últimos telefones IP. Ele estima que gastaria duas vezes mais com contas de telefone se tivesse implementado telefonia tradicional.
>> rádio web – I
A Câmara Municipal de Carneirinho (MG) transmite as sessões pela Internet...

Desde junho de 2008, os moradores da cidade mineira de Carneirinho podem ouvir as sessões da Câmara Municipal pela Internet. Angelo Marcondes de Oliveira Neto, assessor de informática da Câmara, teve a ideia no começo de 2008.Carneirinho fica no pontal do Triângulo Mineiro. Quando Angelo nasceu, Carneirinho ainda era um distrito do município de Iturama — a emancipação veio em 1993. Segundo Angelo, é uma vantagem: o município já nasceu informatizado. Angelo nunca precisou se preocupar em digitalizar leis, ou organizar acervos em papel. Quando chegou à Câmara, em 2003, Angelo só precisou organizar a gestão dos aplicativos. As licenças eram caras; a Câmara não tinha como comprar todos os aplicativos de que precisava. “A infra-estrutura era boa”, ele diz, “mas a gestão de software era capenga.” Angelo resolveu o problema usando aplicativos livres. Hoje, 32 dos 40 computadores e todos os três servidores da Câmara usam software livre.
>> rádio web - II
... usando aplicativos de código livre.

No começo de 2008, Angelo queria transmitir as sessões da Câmara pela Internet. A prefeitura instalou no município uma rede sem-fio para acesso à Internet, padrão Wi-Fi. Carneirinho tem 30 mil habitantes; só 8 mil vivem na área urbana do município. A Câmara já transmitia as sessões por uma rádio FM comunitária. O sinal de FM não chega a todo o município, mas a Internet chega.Angelo começou a pesquisar tecnologias para fazer uma rádio web — sempre considerando aplicativos de código livre. Ele usou os circuitos que já tinha, e instalou os aplicativos no servidor web da Câmara.A rádio web funciona desde junho de 2008, mas pouca gente acessa. Angelo diz que falta divulgação, então quer divulgar mais a rádio este ano. Ele também pensa em incluir uma programação de rádio completa, com música e notícias, além das sessões da Câmara.
>> business intelligence
Para crescer, a InfoBuild alugará geradores de relatórios.

Luiz Cesar de Sá Bittencourt Camara passou 2008 inteiro pensando num jeito de fazer a InfoBuild Brasil crescer mais. Com os sistemas da InfoBuild, o cliente coleta dados em vários bancos de dados, analisa os dados e produz relatórios. O pessoal técnico da Petrobras, por exemplo, consegue preparar o relatório financeiro do presidente, com 200 páginas, em 2 minutos. A InfoBuild conseguiu até agora 15 clientes grandes; ela empregava quatro funcionários e faturava US$ 600 mil em 2003, e hoje emprega 30 funcionários e fatura em torno de US$ 5 milhões. Seus funcionários, contudo, trabalham bastante para que o sistema funcione bem em cada um dos clientes. Esse é o gargalo.Como fazer com que o pessoal da InfoBuild ponha um sistema para funcionar sem que a equipe técnica trabalhe tanto? Quando Luiz Camara estudou o assunto, achou que esse não era um problema técnico, mas um problema de vendas. Com exceção dos executivos mais graduados, a InfoBuild nunca empregou vendedores. Sem vendedores, ela entregava o que o cliente queria, e pronto. Não tinha gente com tempo livre para oferecer mais nada ao cliente, para além do que o próprio cliente pedia. “Mas passamos dessa fase”, diz Camara. “Já passamos a fase do Velho Oeste.”Em vez de contratar mais vendedores, Camara contratou uma empresa terceirizada de marketing e de vendas, a BSP. Com a ajuda dos vendedores da BSP, ele montou um portfólio de geradores pré-ajustados de relatórios. O cliente vai entrar num portal de Internet, vai alugar um gerador (ou mais de um), vai interligá-lo aos bancos de dados para produzir o relatório desejado, e vai pagar por mês. Vários clientes conseguirão compartilhar os sistemas da InfoBuild, e o serviço ficará mais barato para todos. Empresas grandes conseguem pagar pela dedicação dos técnicos da InfoBuild, mas empresas menores não conseguem.No final de 2008, a BSP divulgou o novo portfólio para 70 empresas; e 16 marcaram reunião para o primeiro trimestre de 2009. “Se isso não der certo em 2009”, diz Camara, “é porque não vai dar certo mais.”