quarta-feira, 18 de novembro de 2009

>> crise – I
A prefeitura de Campinas arrecada 10% a menos com impostos e para de comprar...

xxLuis Felizola, diretor de informatização da prefeitura de Campinas (SP), recebeu o programa de governo de Hélio de Oliveira Santos, o prefeito reeleito, em fevereiro de 2009. Ao lado da lista com mais de 200 projetos, Luis rabiscou projetos de TI relacionados. “Criamos um programa de TI.”
xxDurante os meses seguintes, Luis organizou sua equipe e os técnicos da Informática de Municípios Associados (IMA); eles deveriam comprar e instalar novos computadores, implementar uma agenda via Internet de consultas nos postos de saúde (o Siga-Saúde), instalar um sistema de gestão de notas fiscais eletrônicas e também automatizar a cobrança do imposto sobre serviços (ISS).
xxLuis cumpriu o cronograma de projetos até julho, quando a prefeitura arrecadou 10% a menos com impostos por causa da crise. Os reflexos apareceram logo: em vez de receber o 13º salário em julho (como nos últimos dois anos), Luis só vai recebê-lo no final do ano. Além disso, foi avisado de que não poderia mais comprar computadores. “Tudo estava previsto no orçamento, mas o dinheiro não entrou.”
xxSeguindo ordens do prefeito, Luis pararia de comprar equipamentos e software para a área de TI, mas não pararia alguns dos projetos. Ao contrário, deveria entregá-los antes do prazo combinado. Esses projetos ajudariam a prefeitura a arrecadar mais.

>> crise – II
... mas coloca as dívidas dos moradores na Internet e recupera R$ 30 milhões em três meses.

xxEm julho, Luis levou a lista rabiscada para uma reunião com o pessoal da IMA, e apresentou os projetos mais urgentes. Um sistema colocaria na Internet o nome de moradores com dívidas com a prefeitura; outro sistema ajudaria a prefeitura a gerenciar notas fiscais eletrônicas. Luis não tinha gente suficiente para implementar esses projetos urgentes e, em paralelo, concluir os outros que já estavam em andamento. Por isso, pediu mais técnicos ao pessoal da IMA. “Coloquem mais gente para trabalhar”, disse Luis, “senão não teremos como pagar vocês.”
xxCom mais cinco técnicos da IMA, Luis entregou em agosto o sistema de dívidas na Internet, e o prefeito lançou uma campanha para incentivar os moradores de Campinas a pagar as dívidas com a prefeitura. No portal, os moradores veem o valor, simulam formas de pagamento, imprimem os boletos. A campanha termina em novembro, mas a prefeitura já recuperou quase R$ 30 milhões até agora.
xxAté dezembro, os técnicos da IMA terminam o sistema de gestão de notas fiscais eletrônicas. Enquanto isso, Luis revisa novamente a lista rabiscada; a prefeitura arrecadará menos e já avisou que o orçamento de TI será 5% menor. “O reflexo da recuperação demorará a vir.”

>> computação paralela
Bull e Petrobras montam o maior computador da América Latina — com 250 teraflops.

xxA Bull vendeu o maior supercomputador da América Latina até agora — por US$ 2 milhões. O comprador é o centro de pesquisas da Petrobras (Cenpes). Alberto Lemos Araújo Filho, presidente da Bull, organiza seu pessoal para que a instalação comece em dezembro.
xxO supercomputador terá 1.100 processadores Intel (para os cálculos) e 120.000 processadores Nvidia (para o tratamento de imagens em três dimensões). O pessoal do Cenpes pretende usar os 250 teraflops do novo supercomputador para criar ambientes de realidade virtual — e simular operações complicadas ou perigosas antes de arriscar equipamentos, consumíveis e gente de verdade.
xx(Se quisesse a loucura de empregar pessoas para calcular num segundo o que esse novo supercomputador calcula, o Cenpes teria de empregar 25 trilhões de pessoas, cada uma delas com uma calculadora comum; teria de esperar a população da Terra crescer 3.600 vezes...)
xxInstalar e fazer a nova máquina funcionar é a parte fácil do projeto, diz Alberto. Logo depois, vem a parte difícil: escrever software para tantos processadores em paralelo. “Toda a programação precisa ser diferente.” Software escrito para computadores comuns não aproveita as características de computadores paralelos. (Assim como, para empregar 25 trilhões de pessoas com sucesso, o Cenpes teria de colocar bilhões de pessoas para organizar as rodadas de cálculos, distribuir contas para cada pessoa e recolher os resultados.)
xxEsse projeto representa o que Alberto espera de seu pessoal em 2010 — gente capaz de fechar negócios difíceis de pôr em prática, mas que, uma vez em prática, deem bons ganhos para a Bull e para o cliente.

>> prêmio
Conheça os Profissionais de Tecnologia da Informação 2009 — categoria governo.

xxOcorreu ontem, 17, a cerimônia de entrega do Prêmio Profissional de Tecnologia da Informação, organizado pela Plano Editorial. 50 profissionais de TI receberam cada um seu prêmio, inclusive os cinco profissionais da categoria governo.
xxSão eles: Ademir Milton Piccoli (da Procergs), José Antônio Eirado Neto (do Banco Central do Brasil), Marcos Vinicius Ferreira Mazoni (do Serpro), Marcos Tadeu Yazaki (da Prodesp) e Nelson Costa Cardoso (da Petrobras Distribuidora).
xxVeja aqui o perfil de cada desses profissionais, e vote num deles; o mais votado ganhará um perfil de duas páginas no Informática Hoje de janeiro.

>> lousa eletrônica
A Dell tenta convencer o Estado de São Paulo a comprar kit sala de aula

xxRicardo Menezes, diretor da divisão de governo e educação da Dell, tenta convencer os clientes do governo a comprar os produtos de educação da Dell, “mas é difícil”. Agora, ele poderá mostrar como os produtos funcionam e como os alunos reagem.
xxA Dell criou o kit Sala de Aula Conectada e doou 32 kits para 26 escolas estaduais de Hortolândia — cidade onde mantém fábrica. Cada kit abastece 32 salas de aula com uma lousa eletrônica, um desktop, alto-falantes e conteúdo para as aulas de português e matemática, produzido por funcionários da USP. Com um piloto de um ano, Ricardo espera mostrar ao governo de São Paulo, e a outros governos, que os alunos aprendem melhor ao usar o kit. A Unesco medirá os resultados.
xxTécnicos da Unesco deram uma prova aos alunos da 5ª série fundamental e da 1ª série do ensino médio antes das aulas com a lousa eletrônica, em agosto. No final de novembro, farão outra prova; e em fevereiro, outra. Vão analisar não só as notas dos alunos, mas também a forma como se relacionam com os professores, com a família e com os colegas. Por enquanto, diz Ricardo, deu para perceber que os alunos inspiram outros membros da família a usar o computador e a Internet.
xxNo futuro, Ricardo também quer testar como os alunos se comportam com netbooks: em dezembro, a Dell começa a fabricar um modelo no Brasil, que continua funcionando mesmo depois de quedas e sacolejos, e que acende uma luz na tampa (virada para o professor) quando o aluno abandona o conteúdo da aula para navegar em outros conteúdos.
xxSegundo Ricardo, a Dell não calculou quanto o kit custa por aluno.

>> bancos e operadoras - I
O Itaú desiste da contestação eletrônica com a Telefônica...

xxEstava tudo pronto para Antonio Carlos Ferreira, superintendente de sistemas do Itaú, contestar eletronicamente as contas de serviços da Telefônica — e então a Telefônica colocou um empecilho.
xxQuando o banco acha um erro de conta, quase sempre ele paga o valor total primeiro, e depois põe um funcionário para cobrar o que o banco pagou indevidamente. É e-mail para lá, documento para cá. Em média, o banco reconhece 98% da conta, e contradiz 2%. É injusto deixar de pagar os 100% por causa de 2%, assim como é injusto pagar os 100%. Se a contestação fosse eletrônica, todo processo seria automático: o banco pagaria os 98% e deixaria os 2% para discutir depois, conforme a apuração.
xxEm maio de 2007, Antonio começou um projeto de contestação eletrônica com a Telefônica. Num ambiente de testes, a operadora colocou um código na fatura, que permitiu ao Itaú acessar o sistema de contestação eletrônica. O sistema dispara a reclamação do Itaú dentro da Telefônica, e avisa as pessoas sobre o provável erro na cobrança. Em novembro de 2008, ele deu o OK para a Telefônica começar os testes no ambiente de produção do Itaú.
xxQuando chegou a hora da instalação, um funcionário da Telefônica lhe disse que a contestação seria eletrônica, mas o Itaú só poderia contestar a conta inteira — e não só uma coisa ou outra. “Eu não entendi nada.”

>> bancos e operadoras - II
... e a Febraban sugere um relacionamento todo eletrônico.

xx
Antonio levou o problema para um grupo de estudos da Febraban. Os representantes de outros bancos se interessaram pela história, e sugeriram fazer outras coisas eletronicamente, não só a contestação. Pela proposta, todo relacionamento entre bancos e operadoras deveria ser eletrônico, feito por meio da troca de mensagens ou de arquivos: assim o banco pediria uma nova linha telefônica, mudaria o endereço de cobrança, cancelaria um serviço. “A ideia é essa”, diz Antonio. “Propor padrões e normas para isso acontecer.”
xxAs operadoras teriam de investir em máquinas e sistemas, integrar sistemas e tratar as mensagens. A Telefônica já avisou: teria de gastar uns R$ 600 mil só de hardware — sem contar desenvolvimento de sistemas. Contudo, diz Antonio, com o relacionamento eletrônico, operadoras e bancos apressam as coisas, evitam retrabalho e economizam.
xxNo dia 23 de outubro, o grupo da Febraban apresentou a proposta às operadoras. “A recepção foi positiva.” O próximo passo é marcar reuniões individuais: a Telefônica já marcou; a Oi pediu um projeto detalhado para colocar no orçamento de 2010; as celulares ainda não marcaram nada.

>> crise
A Samsung deve vender quatro lotes de computadores antes de montá-los no Brasil

xxEm junho de 2009, Ricardo Miranda, diretor da divisão de TI da Samsung, participou de uma reunião com Gee-Sung Choi, chairman mundial, que visitava o Brasil. Ricardo explicou ao chefe e à sua comitiva como a Samsung Brasil lançaria notebooks e netbooks no Brasil — pela segunda vez. (Na primeira vez, em 2008, Choi aprovou os planos, mas veio a crise e em seguida Choi cancelou os planos.)
xxRicardo conseguiu autorização para importar quatro lotes de computadores e, se vender o suficiente até março de 2010, espera fabricar computadores no Brasil. Ele escolheu três modelos de notebooks e dois de netbooks. Enquanto os primeiros lotes não chegavam, entrou com a papelada para incluir os novos produtos no Processo Produtivo Básico (em troca de isenções fiscais) e se reuniu com outros diretores para planejar as novas linhas de produção. “Vamos importar todas as peças e montar os produtos aqui.” Como não havia mais espaço para mais funcionários e para mais linhas de produção na fábrica de monitores, em Campinas, Ricardo e seus colegas transferiram a fábrica de monitores para Manaus, e abriram espaço em Campinas para a fábrica de computadores.
xxEm outubro, chegou o primeiro lote, mas Ricardo esperou a primeira semana de novembro para vendê-lo — é mais fácil assim, perto do Natal. “Queremos ser a novidade deste final de ano para os consumidores.” Antes de anunciar os novos produtos na mídia, o primeiro lote já estava vendido.
xxRicardo entregou, na semana passada, os primeiros computadores aos distribuidores e varejistas. “Daqui a cinco anos”, diz Ricardo, “os notebooks e netbooks devem responder por metade do faturamento da Samsung.”

>> fiscalização
Americanos preparam sistema de detecção de fraudes de balanço

xxTodo balanço financeiro parece correto, inclusive o de empresas que falsificam os números. Três cientistas dos Estados Unidos estudaram o balanço de 160 empresas idôneas e de 160 empresas falsárias para distinguir as diferenças entre balanços corretos e fraudados. “Algumas empresas conseguem manipular a contabilidade muito bem”, diz Joe Brazel, professor da Universidade Estadual da Carolina do Norte e um dos coautores do estudo. “Mas nem toda informação dá para esconder.”
xxBrazel e seus colegas descobriram um jeito de entrever fraudes. Eles tabularam as diferenças entre medições do tipo a receita, a dívida, a margem operacional (ou seja, medições financeiras, que vão no balanço) e medições do tipo o número de funcionários, a área em metros quadrados de centros de distribuição, o número de lojas (ou seja, medições não financeiras, que nem sempre vão no balanço). Diversos órgãos de governo coletam as medições não financeiras, e uma empresa só consegue manipular essas medições se subornar muita gente. Poucas conseguem. Por exemplo: nas empresas idôneas, diz Brezel, a receita e o número de funcionários crescem e diminuem mais ou menos juntos — com diferença de 4% no máximo, para mais ou para menos. Nas empresas falsárias, a diferença ficou em 20%.
xxAgora, Brazel monta um portal de alertas na Internet. O sistema do portal vai coletar números de balanços publicados na SEC (a CVM dos Estados Unidos) e números de diversos órgãos do governo americano, vai fazer as contas e vai transmitir alertas quando notar diferenças suspeitas entre números financeiros e não financeiros. Ao mesmo tempo, Brazel e seus colegas trabalham nas próximas fases da pesquisa — em que vão pedir a ajuda de investidores, auditores e fiscais.