quarta-feira, 8 de abril de 2009

>> problemas da portabilidade – I
Como a ABR cobra quase R$ 5 mil pelo cadastro de números portados...


A Sumus procurou a ABR Telecom para conseguir o banco de dados de números de telefones portados. Ela precisa dessas informações para checar se as operadoras cobram as tarifas combinadas no contrato — 80% das contas dos clientes vêm com erros de cobrança, e a Sumus é paga para achar erros. Mas a ABR quer que a Sumus pague quase R$ 5 mil por mês para ter o banco de dados sempre atualizado.
Empresas como a Sumus precisam desse banco de dados para alimentar o sistema com o qual fazem a gestão de telecomunicações para grandes empresas — a Sumus atende a Unilever, o Carrefour e até o governo do Estado de Pernambuco. Antes da portabilidade, elas sabiam que um celular 9272-XXXX pertencia à Claro de Brasília, e que um 9973-XXXX pertencia à Vivo de Brasília. A divisão por prefixos era clara; e a Anatel oferecia a lista de graça no portal. Com a portabilidade, a lista de prefixos perdeu o valor. Um celular 9272-XXXX pode não ser mais da Claro.
Sem saber a qual operadora um telefone pertence, as empresas não conseguem configurar o sistema para realizar chamadas por rotas mais baratas. Também não conseguem confirmar se a operadora está cobrando a tarifa combinada, nem conseguem mais saber quanto gastam por operadora.

>> problemas da portabilidade – II

... as empresas não conseguem gerenciar os custos de telecomunicações...


Os clientes pediram providências. A Sumus, diz Guilherme Lousada, gerente de produtos e marketing, entrou em contato com a ABR Telecom para conseguir o banco de dados. (A ABR venceu a licitação para administrar o cadastro da portabilidade numérica.) Mas a ABR só libera o banco de dados caso a Sumus pague quase R$ 5 mil por mês, num contrato de dois anos.
Segundo o presidente da ABR, José Moreira da Silva Ribeiro, a ABR tem um custo para manter o banco de dados atualizado, tem parceiros de desenvolvimento, e por isso ela cobra pelo cadastro. No portal da ABR, dá para consultar um número de telefone por vez e saber a qual operadora ele pertence. Se as empresas precisam consultar muitos telefones de uma vez, diz José Moreira, basta procurar a ABR. "Nós vamos desenvolver uma solução para elas."
O banco Itaú comprou o cadastro da ABR. Segundo Antonio Carlos Ferreira, superintendente de sistemas, o banco envia mensagens de marketing para o celular de muitos clientes, por isso precisa saber para qual operadora vai enviar as mensagens. "Decidimos comprar, mas vamos conversar com a Anatel, porque entendemos que o serviço deveria ser de graça." Antonio reclamou disso tudo com um funcionário da Anatel, num evento organizado pela Febraban. Mas, neste mês, membros da Febraban devem protocolar uma reclamação formal.

>> problemas da portabilidade – III

... e prometem reclamar formalmente à Anatel.


A Sumus ainda não comprou o cadastro. Se tiver de comprar, ela irá repassar o custo para os clientes. Por isso, o setor jurídico estuda uma ação na Justiça contra a ABR Telecom. Guilherme telefonou para duas pessoas da Anatel — uma delas, o coordenador do grupo de portabilidade. Mas não conseguiu falar com ninguém. A Sumus também vai formalizar uma reclamação na Anatel.
Luis Antonio Vale Moura, o coordenador do grupo de portabilidade da Anatel, diz que ainda não recebeu nenhuma queixa, por isso não estudou se o valor cobrado pela ABR é exagerado. Como a manutenção da base de dados tem um custo, então a ABR está autorizada pela Anatel a cobrar. "Não sei quanto é cobrado, mas sei que existe uma solução muito barata."
Enquanto não resolve a situação com a ABR, a Sumus achou um jeito de atualizar o sistema de gestão de custos. A Claro e a TIM, diz Guilherme, adotaram um sinal sonoro para indicar ao cliente que ele está ligando para a mesma operadora; as máquinas da Sumus conseguem identificar esse sinal. E os técnicos da Sumus também atualizam o sistema usando informações que os próprios clientes passam: esse número não é mais da Vivo, agora é da Claro.