quarta-feira, 15 de julho de 2009

>> escola - I
Os técnicos da Secretaria da Educação de Goiás criam um sistema de gestão...


Quando um aluno de uma escola estadual de Goiás pedia seu histórico escolar ou qualquer outro documento, ele tinha de esperar no mínimo 60 dias. Era o tempo que os funcionários da escola demoravam para preparar o documento.
Além dos documentos, os funcionários também precisavam contratar a gráfica que imprimiria os boletins, os certificados. E precisavam passar detalhes sobre a escola para receber a verba da Secretaria: tantos alunos estão matriculados, tantos dependem do sistema de transporte, tantos comem na escola. A verba é baseada no número de alunos.
Quando Claudia Tomaz entrou na Secretaria da Educação, em 2003, recebeu a missão de agilizar a documentação dos alunos e ajudar a secretaria a reduzir os custos com as escolas. Ela e seus colegas da área de TI começaram a desenvolver um sistema de gestão escolar, o Sige.
Com o Sige, os diretores das escolas colocariam no sistema as informações sobre os alunos e as mandariam periodicamente para a Secretaria da Educação. Mas os diretores se recusavam a usar o sistema.
Em 2005, poucos diretores ainda usavam o sistema. Então, a Secretaria da Educação lançou um decreto que obrigava o uso do sistema. Os diretores, obrigados, colocavam informações incompletas no sistema, e mandavam a maioria das informações em formulários de papel. Até que, em 2007, a secretaria baixou outro decreto: só repassaria verba e merenda para as escolas cujos diretores informassem no sistema o número de alunos.
Dessa vez, funcionou.

>> escola - II

... o estado descobre 100 mil alunos-fantasma...


Em 2008, a Secretaria da Educação de Goiás fez pela primeira vez o senso da educação usando o Sige — e conheceu a realidade das escolas. "O número de alunos no estado", diz Claudia, "caiu uns 100 mil." Num município, um diretor informava que 300 alunos dependiam do transporte do governo para chegar até a escola. "Quando fomos ver no sistema, 15 alunos usavam o transporte."
Diretores de 1.219 escolas usam o Sige. A maioria, diz Claudia, hoje aceita o sistema. Qualquer documento referente à escola, ao aluno ou ao professor está no sistema. "O histórico escolar ou qualquer outro documento fica pronto em menos de cinco minutos." Os diretores agora não precisam mais contratar as gráficas, pois eles mesmos imprimem os boletins ou os diplomas em qualquer impressora, na própria escola.
Como cerca de 500 escolas não têm conexão com a Internet (ou tem conexão ruim), os técnicos da Secretaria da Educação desenvolveram um sistema para ser instalado nos computadores da escola, sem conexão com o mundo exterior. A maioria dos diretores, por enquanto, salva as informações em pen drives ou CDs, que depois eles levam até a regional da secretaria, ou levam até uma LAN house e transmitem os arquivos de lá. Mas 23 diretores já conseguem enviar as informações pela Internet da própria escola.
Os técnicos desenvolveram a 16ª versão do Sige baseada na web. Por enquanto, duas regionais e 23 escolas testam a nova versão. Em agosto, as outras regionais e escolas com Internet começam a receber essa versão.

>> escola - III

... e os técnicos decidem compartilhar o sistema com outros estados.


Claudia, em 2005, percebeu que nenhuma escola, de nenhum outro estado, tinha um sistema de gestão como o de Goiás. Então ela começou uma campanha para convencer outros estados a adotar o código-fonte do Sige. Para isso, eles só teriam de assinar um acordo de cooperação técnica, dizer que a base do sistema era de Goiás, e compartilhar as melhorias com os técnicos de Goiás. Dois estados se interessaram. Mas experiência foi frustrante.
Os dois estados, diz Claudia, pegam o código do sistema, mudaram o nome, criaram um logo próprio e começaram a dizer que o sistema era deles. Claudia desanimou por um tempo. Mas depois retomou a iniciativa.
Atualmente, oito estados assinaram o acordo de cooperação técnica, mas só o Acre está efetivamente participando.
Claudia também criou uma versão para ser usada nas escolas municipais e também criou uma campanha para compartilhar essa versão — os estados têm acesso ao código-fonte, mas os municípios não. Por enquanto, 114, de 246 municípios de Goiás, assinaram o acordo. "O problema é que quando eles levam o sistema, querem também uma consultoria." Mas com 54 técnicos de TI cuidando de toda a Secretaria de Educação, ela não tem mão de obra para dar a consultoria.