quarta-feira, 17 de junho de 2009

>> entrevista
Fernando Menezes deixa a TI da Sabesp


Fernando Antonio Menezes sai da Sabesp este mês. Ele entrou pela primeira vez na empresa em 1975, logo depois que a empresa foi formada. Depois disso, foi e voltou algumas vezes; e em 2004, voltou para ficar — até agora. No começo de junho, a presidência decidiu que o superintendente da TI deve ser alguém da própria Sabesp — e não uma pessoa com cargo indicado, como é o caso de Fernando.
Antes de sair, ele deixa algumas ideias para o sucessor. Há cerca de um ano, ele percebeu que, da forma como a TI está organizada, existem zonas cinzas, de conflito ou de abandono, entre as áreas; e o usuário fica mal atendido. O problema é que, em 2008, a diretoria da Sabesp reviu os objetivos estratégicos e, de 27 objetivos, ficou só com nove. Dos nove objetivos, um deles é de TI. A Sabesp, diz o objetivo, tem de aprimorar os sistemas de informação para aumentar a produtividade e a transparência. E, como consequência, a TI não pode mais falhar — o substituto de Fernando terá de planejar e agir bem para que a TI trabalhe lado a lado com as outras áreas.

TI & Governo — Por que a atual estrutura da TI não funciona mais?
Fernando — A TI está dividida em cinco áreas: a de relacionamento; uma de telecomunicações; uma outra área que cuida de infraestrutura; uma área de desenvolvimento de sistemas de gestão interna; e outra de desenvolvimento voltado ao negócio. Quando os sistemas eram desintegrados, essa divisão fazia sentido. Mas, em 2004, os técnicos começaram a integrar os sistemas da Sabesp e hoje todos estão integrados. Então o cliente fica perdido. Ele pergunta: isso eu peço para a área de negócio ou para a de gestão? Hoje, essa divisão funciona 90%.
E de um ano para cá, eu via os técnicos discutindo por trabalho. Um dizia que isso era dele, outro dizia que aquilo era dele. Dessas discussões, chegamos à conclusão de que precisávamos mudar a estrutura da TI. A primeira conclusão foi que a TI precisa de um canal único de comunicação com o cliente.

TI & Governo — Que modelo você propôs para a área de TI?
Fernando — A ideia é criar uma área de relacionamento, para cuidar de tudo que entra e sai da TI. A área fala direto com o cliente, entende as necessidades, levanta uma parte dos requisitos e dá o primeiro encaminhamento da demanda. Depois, a demanda segue para a área de solução — a parte pensante da solução tecnológica. Qual a solução para o problema? Vamos comprar sistemas? Vamos desenvolver internamente?
Depois da solução, a demanda vai para a área de implementação, que segue aquilo que a área de solução definiu, seja de telecomunicações, infraestrutura, sistema ou governança. Se a solução for desenvolver sistema, os técnicos terão o apoio da fábrica de software, com testes e um serviço de consultoria. A fábrica de software ficará mais com os projetos de longo prazo, de manutenção, de evolução ou de melhorias. A consultoria ficará com os projetos fechados. E a demanda segue para a área de infraestrutura, responsável por comprar e suportar as máquinas.
Essa estrutura é uma mistura do nosso processo de produção e da nossa organização formal.

TI & Governo — Quem cuidará do planejamento de longo prazo da área de TI?
Fernando — Pensamos numa quinta área, ligada ao planejamento de longo prazo, governança, segurança da informação, exigências da Sox [a lei Sarbanes-Oxley]. A TI precisa de uma área de apoio, de suporte administrativo; uma área para cuidar do almoxarifado, acompanhar a contratação de pessoas e o pagamento de fornecedores e até para escrever os editais. A Sabesp tem uma área de compras responsável pelos editais, mas nós preferimos passar a documentação pronta para eles. Aqui também ficará o PMO, o escritório de projetos que começamos a construir. As pessoas dessa área definirão as tecnologias e as metodologias que as outras áreas podem usar. Decidirão se os técnicos da Sabesp vão desenvolver em plataforma aberta, ou Oracle, ou Java, ou .Net, ou qual metodologia de análise de requisitos todos devem seguir.

TI & Governo — Com essa estrutura, a TI atende o objetivo de negócio?
Fernando — Dentro do objetivo estratégico, o presidente da Sabesp definiu algumas macroações. Uma delas é manter sistemas de informação sempre atualizados; e outra é ter informações confiáveis. A nova estrutura deve aumentar a produtividade da TI, pois não existe mais bagunça. Não interessa se o projeto é um sistema de gestão, de negócio, ou de telecomunicações. A pessoa vai fazer aqui o que foi definido ali.

TI & Governo — Os técnicos de TI conseguem fazer essa mudança sozinhos?
Fernando — Essa é uma mudança radical, porque um programador continuará sendo um programador, mas um arquiteto de soluções, que hoje desenha a arquitetura, depois analisa, depois acompanha, não fará mais tudo isso — será apenas o arquiteto da solução. Nós desenhamos tudo isso sozinhos, mas a Sabesp precisa de alguém para dizer como fazer isso funcionar, como comunicar isso para as pessoas, como trabalhar os macroprocessos e por qual estrutura começar. Pensamos em contratar uma consultoria, porque alguém de fora sempre enxerga as coisas melhor. Mas enquanto o dinheiro não sai, eu sugeri que os técnicos de TI comecem as mudanças aos poucos, sozinhos.